sexta-feira, 5 de junho de 2009

O mundo dá voltas

Durante os anos de faculdade, estando eu inserida num hospital escola terciário de alta complexidade, considerava o médico do Posto de Saúde um bosta. Grave essa colocação, não? Na verdade hj sei que é grave, mas na época, considerando os encaminhamentos que recebia do "postinho" não dava pra pensar diferente.
But...como diria o ditado...."o mundo dá voltas". Alguns meses antes de voltar pra São Paulo, mais precisamente em outubro de 2007, prestei um concurso público da Prefeitura Municipal de São Caetano. Justamente para trabalhar no "postinho". Mas no caso de alguém desesperado para se inserir no mercado de trabalho de SP, achei uma boa oportunidade. Qual não foi a minha surpresa, qdo passei e comecei a trabalhar no "postinho" em fevereiro de 2008.
O meu pensamento sempre foi..."trabalho no Programa de DST-Aids"...."não sou a médica do posto"...."para um infectologista trabalhar com Aids, considerando que o programa é nacional e todo mantido pelo SUS, não há outra forma senão no posto de eu trabalhar". Tudo isso colocado é a mais pura verdade. E com isso, achei que estaria isenta do pré-conceito dado a todos que trabalham no posto de saúde.
Pra terem idéia, até nome tem nosso local de trabalho. CEPADI (Centro de Prevenção e Atendimento às Doenças Infecciosas). Seria uma excelente forma de substituir o "eu trabalho num posto de saúde em São Caetano" para "eu trabalho no CEPADI". Entretanto o nome ou não pegou ou foi tão mal divulgado, que se eu disser isso, vão me perguntar...é um novo departamento do CIRETRAN?
E o mundo continuou dando voltas e hj a minha suspeita se concretizou. Hj atendi uma paciente, com infecção assintomática pelo HIV, que em seu último retorno (19/03), devido a algumas queixas, foi encaminhada ao Pronto Socorro da cidade para avaliação. Como atendo numa UBS (Unidade Básica de Saúde) faltam-me recursos diagnósticos em caso de pacientes que tenham algum problema agudo. Fiz o meu encaminhamento com queixa e duração, exame físico e hipótese diagnóstica, e solicitei avaliação e conduta do colega que a visse no PS. Felizmente foi um alarme falso, basicamente não era nada. Mas hj ao retornar na consulta ela me contou a surpresa do médico que a atendeu. Ele (assim como eu pensava há 10 anos) ficou surpreso como uma médica do "postinho" era capaz de fazer um encaminhamento tão completo e bem feito como eu havia feito. Que EU estava de parabéns!!!rs.
Resumindo: devido ao nosso sistema de saúde deteriorado e desacreditado, todos que fazem parte dele invariavelmente são considerados ruins, tecnicamente fracos e incapazes de serem bons profissionais. A premissa sempre é: melhor pagar um convênio pq assim serei melhor atendida a me submeter ao SUS e passar na mão de médicos incapazes de solucionar o meu problema.
Eu como médica e uma ex-estudante de universidade pública, atualmente funcionária de 2 estabelecimentos públicos, sou contrária a essa opinião. Pode parecer utópico ou muito piegas, mas o meu atendimento no setor público assim como no setor privado é o mesmo. Eu não "emburreço" assim que atravesso a porta do "postinho" assim como não me torno a mais capaz e perspicaz qdo entro numa clínica particular.
Infelizmente devido alguns "colegas" que fazem muita diferença em seu atendimento quando o mesmo não é pago diretamente pelo paciente, eu e mais tantos outros bons profissionais entramos no bolo "dos médicos ruins do postinho".

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